33
reconhecer por si os resultados da sua ação. O julgamento dos resultados da ação
pelo outro tem a ver com o reconhecimento externo, com a validação e a valorização
das competências do sujeito, ou seja, “O julgamento é essencialmente uma ação do
outro. De um outro ao qual, de qualquer maneira, o ego está ligado pela tradição” 15
(p. 37).
O termo tradicional remete para incorporação da técnica como prática social
validada e reconhecida pela sua eficácia. A tradição é construída na relação entre o
sujeito que age e o outro. Ainda nas palavras de Christophe Dejours:
“...A dimensão tradicional do ato técnico é então o que faz a ligação entre o
ego e o outro, no triângulo da tecnologia; é a parte propriamente
intersubjetiva, social ou cultural da construção de uma conduta técnica.
Portanto, a técnica é não somente uma técnica do corpo, mas também uma
técnica cultural...” 15 (p. 36).
O aporte conceitual da antropologia da técnica (no geral), contribui e produz
implicações sobre o entendimento da tecnologia assistiva (no específico).
Considerando os três pólos do triângulo, podem ser construídas diferentes relações
entre os elementos deste e o objeto do projeto, a acessibilidade. Particularizando para
o sujeito ‘pessoa com deficiência’ (Ego), para o contexto da aviação civil ou do ciclo
de viagem (Real) e para a comunidade envolvida (Outro) e analisando as interações
entre esses elementos, derivam orientações para a busca por tecnologia assistiva que
produza a eficácia da acessibilidade na aviação civil. Algumas considerações iniciais:
a) Na mediação entre as pessoas com deficiência (Ego) e o contexto da aviação
civil (Real), os artefatos (soft ou hard), mediadores desta relação, podem estar
mais próximos do sujeito (por exemplo, um exoesqueleto) ou mais próximos do
contexto (por exemplo, um sistema de veículos autoguiados - AGVs);
b) Em qualquer caso, esses sistemas devem possibilitar que o sujeito se aproprie
do mesmo, seja pelo conhecimento prévio das formas de funcionamento
cristalizada nos artefatos, seja pela plasticidade que permita o sujeito adaptar
seus modos operatórios ao mesmo, seja pela possibilidade do sujeito fazer uso
das suas competências para apropriar-se do sistema;
c) Na mediação entre o contexto da aviação civil (Real) e a comunidade (Outro),
a eficácia da acessibilidade deve considerar como critério de avaliação o grau
de autonomia e de independência produzida para o sujeito da ação;
d) A avaliação da eficácia deve considerar também a universalidade dos artefatos
em termos de abrangência de sujeitos que possam ser atendidos. Neste